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02 abril 2018

Velhice - Ricardo Orestes Forni



VELHICE


O medo da velhice é muito cruel, tornando-se um verdadeiro tormento para quantos não consideram a existência física na condição de uma jornada de breve duração, por mais longa se apresente, passando por estágios bem delineados desde o berço até o túmulo.” – Joanna de Ângelis.

O único recurso de não se chegar à velhice é desencarnar logo. Viver, fisicamente, pouco. Alguém prefere essa alternativa? Creio que essa opção não faz parte do desejo de nenhum jovem. Então, o jeito é envelhecer. Isso, quando possível, evidentemente. A revista VEJA, edição 2306, página 26, traz um artigo de uma conhecida escritora sobre o assunto. Reproduziremos um trecho para, depois, analisarmos à luz dos ensinamentos espíritas a chamada “melhor idade”. Muitos a consideram, na realidade, a pior idade. Quem estaria com a razão? Vamos lá.

“A vida é um rio que corre. Nós somos os peixes, galhos e folhas caídas das árvores que essa torrente leva. Se pensarmos assim, imaginando que vamos desaguar no estranho e silencioso nebuloso mar chamado morte, que pode não ser o fim de tudo, teremos uma visão realista das etapas da nossa existência. Sou pouco simpática à invenção de rótulos que distorcem realidades revelando apenas um preconceito: envelhecer é feio, é degradante, vamos ser eternamente jovens, seguindo aos pulinhos até o fim, fantasiados de Peter Pan. Disfarçamos realidades naturais porque as vemos como algo feio, inadmissível, pobres de nós, ignorantes do que é normal e digno e bom.

Assim, inventam-se termos para a velhice: um pior do que o outro. “Terceira idade” não significa grande coisa, pois se podemos viver até 80 ou 90 ainda ativos – o número de pessoas nessas condições tende a aumentar –, vamos criar uma quarta idade e uma quinta: isso tudo me parece bastante tolo. Pior ainda é chamar a velhice, que alguns consideram se iniciar aos 60, outros aos 70 ou aos 80, de “melhor idade”. Quem disse que é melhor? Melhor do que qual outra fase? Melhor é algo muito subjetivo, em geral nos referimos à infância, mas a infância é sempre feliz? A juventude não sofre? A maturidade não exige trabalhos e sacrifícios?

Por que consideramos a passagem do tempo decadência, e não transformação? Tudo é um processo que se inicia quando somos concebidos, depois somos lançados nesse rio de tantas águas chamado vida. Uma cadeia de mudanças que após um bom tempo traz limitações físicas, menos elasticidade, menos beleza no conceito geral, talvez menos lucidez. Alguma dependência de outros, quem sabe, e, se não cultivamos bons afetos, isso pode ser doloroso. Mas não necessariamente decrepitude e vergonha a esconder!”

Recorramos aos ensinamentos de dois Espíritos de escol: Chico Xavier e doutor Bezerra de Menezes. O primeiro pergunta: O senhor, Dr. Bezerra, que conhece bem o campo orgânico, poderia me dizer. Reconheço que a minha fase é de uma pessoa que é considerada idosa. Já sei disso, mas devo dizer que intimamente o meu otimismo, a minha alegria com a vida são os mesmos. Eu queria que minhas pernas fossem revitalizadas.

O segundo – doutor Bezerra – responde: Chico, as pernas são a periferia da Cidade Corpórea. Você está dando muita importância à periferia e se esquecendo do centro urbano, que é o serviço. (Livro Lições de Sabedoria, Editora Fe, página 18, 1996.)

O primeiro – Chico Xavier –, segundo comunicação mediúnica de Joanna de Ângelis através de Divaldo, foi recebido, após o desencarne, por Jesus. O segundo – doutor Bezerra – despertou, em tempo curtíssimo após seu desencarne, ao lado de Celina, uma das maiores colaboradoras de Maria de Nazaré!

Reparar a periferia é exatamente o que a sociedade de consumo representada pelos Espíritos reencarnados na atual fase evolutiva da Humanidade vem fazendo com grande angústia, se não, até mesmo com desespero: buscar todos os meios para parecer sempre jovem. Cuidam exaustivamente da periferia e esquecem-se do centro urbano como respondeu doutor Bezerra, sabiamente, a Chico Xavier. Enganamos, com os recursos estéticos existentes ao alcance dos encarnados, a periferia, mas não enganamos a morte que sintoniza com o centro urbano. A periferia, por mais socorrida que ela seja, sofre a ação inexorável do tempo. Mas o centro urbano através do serviço em favor do mais necessitado pode proporcionar-nos a ação estética do bem que realizarmos em favor do próximo, conferindo-nos a moratória que consigamos obter perante as Leis sábias da Vida. Exemplo disso? É muito fácil! Basta contemplar a Divaldo em sua velhice moça, mais jovem do que qualquer jovem fisicamente falando, amparado pela sua alegria em vivenciar o bem em favor do seu próximo durante esses longos e produtivos anos.

Conforme nos ensina Joanna de Ângelis, a velhice se apresenta quando o indivíduo se considera inútil, quando experimenta o desprestígio da sociedade preconceituosa, que elaborou conceitos de vida em padrões torpemente materialistas, hedonistas. Chico Xavier não se entregou a esse conceito e serviu, mesmo quando carregado por braços amigos, a todos os necessitados que por ele buscaram até o final de seus abençoados dias aqui na Terra.

Você conhece alguém mais belo e mais jovem do que ele, nos dias atuais, segundo os conceitos de juventude e beleza de acordo com Jesus?

Ricardo Orestes Forni

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