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20 abril 2018

O que devemos entender por “mente”? - Ricardo Baesso de Oliveira



 O QUE DEVEMOS ENTENDER POR "MENTE"?


Alguns termos amplamente utilizados em nossos dias tinham à época de Kardec uso mais restrito e, às vezes, um significado um pouco diferente.

O vocábulo psicologia é um desses termos: possui hoje uma conotação diferente do que possuía à época de Kardec.

A psicologia era entendida, então, como a ciência da alma - alma como ser, inteligência que comanda o corpo, independentemente da crença em sua sobrevivência. A psicologia como o estudo dos fenômenos psíquicos e de comportamento do ser humano, por intermédio da análise de suas emoções, suas ideias e seus valores, inexistia àquela época.

O primeiro laboratório psicológico foi fundado pelo fisiólogo alemão Wilhelm Wundt em 1879, após a desencarnação de nosso codificador.

Kardec não usou o vocábulo psíquico, amplamente utilizado em nossos dias, e provavelmente inexistente à época, e empregou os termos mente e mental como sinônimo de pensamento (o que ainda ocorre em nossos dias).

Os dicionários colocam como conceitos equivalentes a mente: parte incorpórea, inteligente ou sensível do ser humano; espírito, pensamento, entendimento, o desenvolvimento intelectual, a faculdade intelectiva; inteligência, mentalidade.

Nós, espíritas, recusamos a proposta dos materialistas que colocam a mente como resultado do funcionamento do cérebro, e admitimos que todo fenômeno psicológico é de natureza espiritual.

Mas, afinal, em que consiste a mente? Muitos de nós temos colocado mente e Espírito como sendo a mesma coisa. Será que podemos considerar Espírito e mente como sinônimos?

Uma definição recente de mente é essa: um fluxo de experiências subjetivas, constituídas de sensações, emoções e pensamentos[i]. Experiências subjetivas são aquelas que pertencem ao sujeito pensante e a seu íntimo. São, portanto, experiências pertinentes e características de um indivíduo; individuais, pessoais, particulares: os pensamentos, sentimentos, desejos, inclinações, sonhos etc.

O pensamento kardequiano define os Espíritos como os seres inteligentes da criação [ii]. É certo que a mente é algo intimamente relacionado ao Espírito, imaterial, não física, preexistente e sobrevivente ao corpo, tal como o Espírito. Mas deve ser feita uma distinção entre mente e Espírito.

Talvez fosse melhor considerarmos a mente (um fluxo de experiências) como uma propriedade do Espírito, porque o Espírito é mais do que um fluxo de experiências, é um SER, tem substância, identidade, existência própria, uma individualidade.

O Espírito é ser, é essência; já a mente é um processo. A mente não tem essência, tem existência. Existe a partir do Espírito, sendo um atributo deste. Valendo-nos de palavras do professor Nubor Facure, podemos dizer que a mente é o produto de uma atividade metafísica que instrumentaliza o cérebro a partir do livre-arbítrio do Espírito.[iii]

André Luiz apresenta a mente como um núcleo de forças inteligentes,[iv]fonte de uma força desconhecida – a energia mental. Através dessa energia exteriorizamos o que somos e agimos uns sobre os outros, pelos fios invisíveis do pensamento.

Apresenta ainda o conceito de corpo mental [v], como sendo o envoltório sutil da mente, atribuindo a ele a formação do corpo espiritual (perispírito).

Emmanuel, na mesma linha de pensamento de André, compara a mente humana — espelho vivo da consciência lúcida — a um grande escritório, subdividido em diversas seções de serviço. Segundo ele, na mente possuímos o Departamento do Desejo, em que operam os propósitos e as aspirações, acalentando o estímulo ao trabalho; o Departamento da Inteligência, dilatando os patrimônios da evolução e da cultura; o Departamento da Imaginação, amealhando as riquezas do ideal e da sensibilidade; o Departamento da Memória, arquivando as súmulas da experiência, e outros, ainda, que definem os investimentos da alma. Acima de todos eles, porém, surge o Gabinete da Vontade. A Vontade é a gerência esclarecida e vigilante, governando todos os setores da ação mental.[vi]

Examinando as relações mente/cérebro, coloca André Luiz, de forma metafórica, que o cérebro é o maravilhoso ninho da mente.[vii]O pensamento desse autor evoca a ideia de que o Espírito se vale das experiências reencarnatórias para aprimorar-se a si mesmo, e a mente, acolhida pelo cérebro, em contato íntimo com ele, vai expandir suas possibilidades.

Fora do contexto físico do cérebro, a mente pode dispor de recursos ou usar de estratégias que sobrepujam toda a fisiologia cerebral, mas, enquanto contida nessa máquina de neurônios, ela é limitada pelos recursos que esses neurônios podem oferecer. Em outras palavras, a mente se vale da ação coerciva do cérebro para aprender paulatinamente a se libertar dele, liberando-se das experiências reencarnatórias.

À medida que o Espírito avança evolutivamente, suas habilidades mentais se expandem, ou seja, a mente, como seu atributo, se capacita de recursos maiores, tanto sobre o aspecto intelectual como sobre o aspecto moral e ele se distancia da precisão da corporeidade.

Concluindo, talvez pudéssemos colocar assim:

1- nós, seres espirituais, possuímos uma mente – um atributo do Espírito -, onde se expressam nossas ideias, sonhos, projetos, pensamentos e sentimentos;

2- a mente constitui-se de um núcleo de forças inteligentes, envolvidas por um sutil envoltório (corpo mental). Dela partem as ondas mentais que retratam a nossa condição evolutiva e nos ligam a todos aqueles que sintonizam conosco;

3- na corporeidade, a mente se identifica com o cérebro e intelectualiza a matéria, alimentando as células;

4- nossa mente vem evoluindo conosco, através das experiências na dimensão espiritual e na dimensão física, e, tal como nós, partiu do simples em direção ao complexo, da ignorância em direção do saber, atendendo ao princípio da perfectibilidade ínsito em cada um de nós.

Ricardo Baesso de Oliveira

Referências:

[i] Homo deus, Yuval Harari.

[ii] O Livro dos Espíritos, item 76.

[iii] Muito além dos neurônios, Nubor Facure.

[iv] Nos domínios da mediunidade, cap. 1.

[v] Evolução em dois mundos, parte I, cap. II.

[vi] Pensamento e vida, cap. II, Emmanuel.

[vii] Evolução em dois mundos, parte I, cap. IX.


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